Ideias em Jogo: Sim, elas jogam e buscam seu espaço
março 18, 2016Olá pessoal estamos de volta!
Essa semana vamos abordar um assunto que marcou recentemente noticiários e discussões, já é um assunto debatido, só que agora com novos números nacionais e aqui vamos colocar informações locais. Saiu na última terça-feira (15/03) a mais recente pesquisa GAME BRASIL onde aponta que o público feminino voltado para games cresceu e hoje, segundo a mesma sinaliza 52,6% do público que joga games no Brasil são mulheres. Mas o grande problema que temos nesse assunto não envolve só números. Por isso teremos participações e menções especiais, alguns fatos e também indicadores locais como o exemplo proposto pela professora Lizie Sancho, na pesquisa feita por sua aluna Vanessa Esteves.
Vamos começar falando sobre o universo do jogos, se jogamos “porrinha”, jogo da velha, amarelinha, paciência no PC ou até mesmo o mais hardcore game no mais avançado PC ou console, estamos inseridos no universo dos jogos e quem joga é jogador independente de sexo, credo, religião, seguidor de plataforma e etc. E tudo que se coloca contra o fator de se divertir, falar sobe jogos e JOGAR é preconceito e temos de atentar para isso buscando alinhar ideias para ter mais e mais da cultura de jogos colocada e vista como algo válido nos dias atuais.
Para fortalecer ainda mais o que pensam as mulheres sobre sua atuação no cenário atual dos jogos, nada melhor que uma pessoa que vivencia isso. Convidei a jogadora Alana Herculano para comentar um pouco sobre sua visão e pensamento do que temos, vejamos a seguir:
Inclusão feminina não é assunto gasto. Na verdade, somente nos últimos anos é que mulheres tiveram num cenário mundial, grande representatividade no âmbito de jogos, um mercado que por tanto tempo foi direcionado a homens e meninos.
Se buscarmos um pouco de informação será fácil concluir que os jogos eletrônicos e analógicos foram na verdade, idealizados para toda a família. Então vamos parar com essa história de que “videogame é coisa de menino”. Algumas mudanças possivelmente econômicas, fizeram com que a indústria de consoles, na tentativa de manter suas atividades de forma bem sucedida, aproveitasse a popularidade dos jogos de ação e com isso possivelmente acabou direcionando seus jogos a meninos. Não estou com isso afirmando que meninas não gostam de jogos de ação. Mas com certeza o enredo, o aspecto visual, a mecânica do jogo acaba fazendo uma seleção das pessoas que podem se interessar por ele. Simultânea às novas introduções no mercado de jogos na década de 80, houve também forte influência de marketing e propaganda, que de forma intencional reforçavam a seletividade e a segmentação de jogos por gênero.
Quando eu era criança, notava que os jogos da época sempre tendiam a ação e violência. Isso até me soava como se a industria fosse um pouco misógina. Mas eu pensava assim porque particularmente nunca foi o estilo que mais me atraiu. Os jogos que eu gostava sempre estavam ligados a nichos de menor representatividade. Entretanto não necessariamente todas as mulheres sentem da mesma forma. Isso é muito particular. Mas ultimamente tenho percebido uma aproximação entre os meus interesses e os interesses da maioria das outras pessoas. Os jogos independentes tornaram-se muito fortes e isso acabou nos trazendo assuntos de apelo comum. O próprio percurso que a sociedade tem seguido, traz uma diversificação geral dos temas abordados nos videojogos e a ampliação de seus nichos.
Muitos dos últimos grandes jogos que tenho conhecido, são protagonizados por mulheres. Isso é muito interessante porque é possível ver as transformações sociais a partir do cenário de jogos. O público feminino realmente passou a fazer parte da cultura geral de jogos. Isso porque agora temos mulheres que trabalham com isso e que direcionam o mercado também ao público feminino, interrompendo o ciclo que anteriormente existia. E a própria industria percebeu quão viável seria alcançar outros perfis. Por que não citar a inclusão de equipes femininas no FIFA 2016?
De acordo com a pesquisa mais atual, mais de 50% do percentual de jogadores, já representa a população feminina brasileira que joga alguma coisa, seja em consoles ou dispositivos mobile. Também em decorrência da volta do pensamento de que jogos eletrônicos não merecem o mesmo tratamento dispensado aos brinquedos. Eles estão além do entretenimento, são meios de ir para uma realidade fantasiosa e até de socialização. Coisas que podem ser apreciadas por qualquer pessoa.
Como parte integral da cultura contemporânea, mulheres e minorias buscam por seu espaço em vários âmbitos. O mercado dos jogos está acompanhando as transformações, mostrando-se bem aberto a diversidade. Tudo depende de um posicionamento individual para que essa diversificação não caia no superficial.
Voltando comigo!
O mais engraçado é ainda ver as perguntas: Mulher sabe jogar bem? Elas entendem sobre hardware? Elas só gostam de Kate Perry? A resposta para isso tudo é que elas mandam bem sim!

Vamos acabar com o conceito bobo que infelizmente alguns homens e por incrível que pareça algumas mulheres também tem, de que precisa ser somente homem e como como uns dizem “macho” pra jogar videogame. Com certeza não, conheço muitas mulheres que contrariam isso inclusive e vão além dos jogos casuais, como aponta a pesquisa citada anteriormente, botam pra quebrar em jogos que seriam supostamente somente de meninos. Vejam o caso da Alice Bessa no vídeo a seguir, que bota muito marmanjo no bolso jogando FPS. Já perdi até uma partida do Pro Evolution Soccer para uma menina numa confraternização da UCEG e nem morri, né Jessica Loyola.
Elas são jogadoras, curtem jogar como qualquer um e devem ser tratadas como tal. Jogam bem e ainda podem ser companhias bem melhores que qualquer cueca de plantão, no meu caso eu adoro jogar Atari com a minha esposa S2. Temos também as jogadoras famosas cearenses como é o caso da amiga Katiucha Barcelos, apresentadora do programa Uplay e escritora do site Ivalice, que gosta do gênero RPG e curte dos jogos retrô aos mais atuais. Também posso citar a youtuber Jéssica Cordeiro, que teve matérias no Jornal o Povo e Folha de São Paulo com mais de 800 mil inscritos em seu canal, no qual comenta sobre o jogo “Minecraft”, é jogadora de videogame há mais de 15 anos, começou a jogar sob influência do irmão mais velho e desde 2012, e veio assim a montar um canal, o “Miss Pinguina“.
Não podemos continuar com pensamentos do passado, hoje os jogos possuem enredos bem mais elaborados, com imersão maior dos jogadores, e não estou comparando com novelas, mas falando de boas historias que fazem o interesse das mulheres ser mais notado, ao invés de só sangue e pancadaria 🙂 Sem falar da maior diversidade de plataformas, como portáteis mais acessíveis, jogos em celular que pode ter as aproximado ainda mais dos jogos.
E não é só nos games que percebemos essa participação maior das meninas, vejam o caso da iniciativa do PyLadies Fortaleza, com foco em ajudar mais mulheres a tornarem-se participantes ativas e líderes da comunidade de código aberto Python, com a minha amiga Ana Paula. E no universo Geek como podemos ver no vídeo a seguir onde a iniciativa Women Up Games de São Paulo, que realizará a oficina Insert Coin, que ensinará as meninas a construir seu próprio arcade de games.
Se você menino tem uma amiga e quer que ela jogue, não olhe apenas ela como uma menina, ajude-a por que ela quer jogar. Tá certo que pode ajudar até a “chegar junto”, mas esse não deve ser o principal objetivo. Os jogos nos colocam em situação de integração e neles temos uma situação de imersão onde por exemplo nos jogos on-line, onde notamos inclusive meninas que se passam por meninos por medo do preconceito, ou ter que usar personagens masculinos pela definição de estereótipos, onde personagens femininos são mais fracos, e homens que não usam personagens femininos por que a Chun Li é mulher – FALA SÉRIO! Sexualidade dos personagens, definição de estereótipos dá um outro papo bem bacana. Mas o papo esta bom, só que ainda temos de mostrar nossa realidade local.
Com base na pesquisa realizada por Vanessa Esteves (UNIFOR 2014), com o apoio e orientação da professora Lizie Sancho, temos algumas informações que indicam que a realidade em Fortaleza ainda é um pouco distante da realidade nacional, como veremos a seguir. Seu trabalho teve como objetivo, analisar o perfil das consumidoras de jogos eletrônicos na cidade de Fortaleza e também fazer um estudo sobre a relação destas com os games, expondo resultados e ainda traçar este perfil destas jogadoras, vendo o consumo e as características do mercado de jogos eletrônicos no Brasil. A pesquisa do trabalho foi realizada delimitando o público notando que as participantes obrigatoriamente deveriam jogar qualquer tipo de jogo eletrônico, sendo ele em qualquer dispositivo como consoles, computadores, portáteis ou arcades. A pesquisa foi aplicada por meio eletrônico, e publicada em grupos de jogos eletrônicos e em redes sociais, como por exemplo o Facebook. Nesta podemos ver algumas informações relevantes ao segmento:
- Com relação à idade das participantes. Notou-se que houve uma grande presença de mulheres que possuem de 22 a 30 anos, chegando a uma amostra de 51%. Logo em seguida está o público de 18 a 21 anos, com 33%, menor de 18 anos com 7%, 31 a 40 anos com 7% e 40 anos ou mais com apenas 2%. Em contradição a nossa pesquisa feita na cidade de Fortaleza, o levantamento feito pelo Ibope afirmou que das jogadoras entrevistadas em todo o Brasil no ano de 2012, 51% delas possuíam entre 40 e 49 anos. Considera-se a hipótese que por conta do questionário ter sido aplicado por meio eletrônico, possa ocorrer de não apresentar uma maior variedade de mulheres a partir dos 30 anos.
- Com relação à frequência que joga, as participantes afirmaram jogar diariamente, 29% jogam de 2 a 4 dias na semana, 21% possuem a frequência de jogar de 1 a 3 dias na semana e 12% jogam de 5 a 6 dias na semana. Aquelas que indicaram a opção “outro” afirmaram que o período em que jogam pode mudar dependendo do que estejam jogando. Com relação seu tipo de jogador (Hardcore ou Casual) em outro gráfico se notou também um resultado quase igualado para as duas opções. 51% delas marcaram que tinham o perfil de jogadoras casuais e 49% marcou como perfil de jogadora o hardcore.
- Observando o tempo que jogam, 57% das participantes tem esse hábito há mais de 10 anos. 20% delas tornaram-se jogadoras em um período de 1 a 3 anos, 12% de 4 a 6 anos e 11% de 7 a 9 anos. Nesta questão podemos notar que como a maioria das mulheres costuma jogar há bastante tempo, pode se considerar que grande parte delas tornaram-se consumidoras de jogos por possuírem recordações da infância ou adolescência, ou seja, passaram por estímulos que hoje podem ser relembrados e utilizados como uma busca interna no momento da compra e consumo dos produtos.
- Aqui com relação ao Gênero dos jogos, revela que 41% das consumidoras preferem os jogos com gênero de ação ou aventura. 29% delas preferem estratégia, 10% preferem simulação, 9% gostam de jogos casuais, 5% gostam dos de conhecimento, 5% preferem os específicos e apenas 1% gosta de jogar esportes.
Ainda há outros aspectos a serem enumerados e observados (o trabalho pode ser solicitado para uma maior consulta) mas, apesar de não ser muito recente e mesmo com a ressalva de um possível desvio da pesquisa por conta da amostra considerada, os estudos ainda são válidos e deixam margem para uma atualização, só que notamos como é importante ver o aumento significativo das mulheres no universo do jogos, a ainda mais importante é fazê-las estarem mais presentes e atuantes, bem como serem parte da construção do cenário local e nacional de jogos.
E se você é mulher, curte jogar, escrever e discutir sobre jogos estamos procurando mais seu apoio e participação como por exemplo fazendo parte do grupo Elas no Controle da UCEG —> Mais informações no email contato@ucegamers.com.br
Aguardamos comentários e opiniões sobre o assunto no nosso grupo e aqui mesmo nesta página. Não deixem de colocar suas Ideias em Jogo.
Referências:
- Garotas Geeks – Preconceito com mulheres nos games
- Folha de São Paulo – Mulheres avançam dentro e fora dos games, mas ainda sofrem preconceito
- O consumo feminino de jogos eletrônicos em Fortaleza – Vanessa Esteves (Monografia – Unifor – 2014)
- G1 – Mulheres são 52,6% do público que joga games no Brasil
- Gameblast – Elas no controle! Garotas já são a maioria entre os gamers brasileiros
- Pesquisa Game Brasil
- Drops de Jogos: Oficina em SP só para meninas ensina a construir Arcade de Games com Raspberry Pi
Alana Herculano
Futura Contadora, Corretora e Jogadora de BoardGames
“A matemática é o alfabeto com a qual Deus escreveu o universo”
Izequiel Norões
Professor, Analista de Sistemas, Diretor da UCEG e pai do Icaro.
“Jogos não são joguinhos”

Professor, Analista de Sistemas, Presidente da UCEG e pai do Icaro.
“Os jogos podem mudar o mundo”








